Filme: O Abutre (Nightcrawler)
inteligente, ambicioso e ativo vive num dos maiores centros urbanos do mundo. Combinação
promissora. Mas ele não possui educação formal e se diz parte de uma geração menos
privilegiada que a anterior. Eis o problema. Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) até tenta
conseguir um emprego. Chega a dizer que aceita um estágio, mas apesar de sua
lábia e insistência, a resposta é “não”. O primeiro trabalho (crime) que o
vemos realizar (cometer) é um roubo. Vítima da desigualdade, marginalizado pela
sociedade? Essa reflexão fica por conta do espectador, não é a perspectiva do
diretor e roteirista Dan Gilroy. O cerne de “O Abutre” (indicado ao Oscar de
melhor roteiro original) é o antagonismo entre homem e cidade. Longe de ser
vítima, o personagem principal é um anti-herói sem escrúpulos que primeiro
sobrevive ao meio, depois aprende a dominá-lo para em seguida descobrir que
pode explorá-lo.
Ao
se deparar com um acidente nas ruas de Los Angeles, Louis Bloom descobre,
observando a movimentação de cinegrafistas, que registrar tragédias pode ser um
bom negócio. Afinal, a audiência voyeur e sádica da TV quer sangue na tela. E os
telejornais querem mais audiência. Audacioso e instintivo, o personagem não
pensa muito antes de mergulhar de cabeça no novo trabalho. Urbano e realista, o
filme põe em primeiro plano a metrópole contemporânea, muito bem fotografada, explorando
a beleza das noites iluminadas sem ignorar seus problemas como a segregação
racial, a realidade da luta de classes e a violência. E é nesse momento que o
antagonismo da cidade se torna mais concreto e aparente. Há um simbolismo na
dificuldade que o anti-herói encontra para percorrer seu labirinto.
Mesmo
com um GPS, ele precisa conhecer as rotas, saber o nome das ruas, contar com
longos deslocamentos e estar disposto a dirigir em alta velocidade, arriscando
a vida, para conseguir suas imagens. Cada rodovia obstruída, cada beco sem
saída, cada sinal vermelho, é um lembrete de que o mesmo meio que oferece as
oportunidades – ironicamente simbolizadas pelas tragédias e pela demanda por
seu registro – também impõe desafios e riscos. Para dominar a cidade que o
ameaça, Louis Bloom precisa encarar as entranhas dela. E ele o faz.
O suspense e a ação funcionam muito bem. Mérito
da direção, que mostra perícia tanto nas difíceis cenas de perseguição, quanto
na administração dos valiosos silêncios do roteiro. Mérito ainda das
interpretações, principalmente a de Jake Gyllenhaal, que explora as várias facetas
do personagem e constrói uma grande atuação.
é um ator. Ele é um abutre. Ele é um psicopata. Sem superação inspiradora, sem
regeneração, o que atrai e prende a atenção nessa trajetória é justamente o que
ela tem de repugnante: como ele vence e à custa de que.
– O filme está disponível na Netflix
Avaliação: Bom
Esse filme eh excelente. Pra mim, o filme nao eh sobre a cidade, mas sobre a midia. Ou seja, o ambiente onde um psicopata ambicioao se adapta perfeitamente, e que explora seu "potencial" como ninguem! Outro filme excelente no estilo eh "network", de 1976