Filme: Viva – A Vida é uma Festa
Direção: Lee Unkrich
Crítica: Daniel Bydlowski (@DanielBydlowski)
*Artigo originalmente publicado no jornal A tarde
Já fizemos parte da vida de brinquedos, de super-heróis, de insetos, de monstros e de carros. Agora é a vez de nos depararmos com o Dia dos Mortos, uma celebração mexicana que cai como uma luva na tentativa dos estúdios Pixar de trazer histórias emocionais e divertidas que agradam qualquer um, de qualquer tamanho ou idade. E a produtora de animação acertou em cheio.
Utilizando atores mexicanos para a voz de seus personagens, alguns muito famosos como Gael García Bernal, Viva – A Vida É Uma Festa nos coloca em contato com uma sociedade não muito vista no cinema. Em uma vila mexicana, Miguel, um menino apaixonado por música, precisa confrontar sua família (que quer que o garoto trabalhe com sapatos) para seguir seu coração e se tornar um mariachi. Situações engraçadas aparecem desde o começo, quando também conhecemos Dante, um cachorro que não parece ser muito esperto, e quando vemos Miguel fazer de tudo para tocar seu violão.
Porém, o filme realmente começa quando o mundo dos mortos é revelado. Tentando pegar um violão emprestado de uma sepultura por acreditar que o dono, já morto, é seu familiar, Miguel é transportado para um dos ambientes mais bonitos criados pela Pixar. Porém, tem um problema: o jovem garoto descobre que quando os vivos se esquecem dos mortos, suas almas deixam de existir – nada poderia ser mais emocional do que esta premissa, e Viva – A Vida É Uma Festa não deixa a chance passar. Descobrindo seus familiares já falecidos neste mundo, Miguel se torna um ponto de contato entre os vivos e os mortos, dando a possibilidade para que problemas passados sejam redimidos e saudades aliviadas.
O Dia dos Mortos, Dia de los Muertos em espanhol, é um feriado mexicano tradicional. Embora séculos atrás era comemorado no começo do verão, mudou de data para coincidir com os feriados cristãos do Dia de Todos os Santos e Finados, respectivamente nos dias 1 e 2 de novembro. Embora alguns comparem esta comemoração com o Halloween (que tem características parecidas), as comemorações são bem diferentes, em especial nos dias de hoje. Se a maior parte das pessoas que comemoram o Halloween se vestem de monstros e brincam com a ideia do assustador, os que celebram o Dia dos Mortos homenageiam seus familiares já falecidos, e convidam suas almas para andar entre os vivos nestes dias. Assim, os vivos colocam as fotografias dos mortos em altares e oferecem suas comidas preferidas. Os altares também são enfeitados com flores malmequer, ou cravo de defunto, já que se acredita que podem atrair as almas dos amados para as estruturas.
Este dia, porém, não é celebrado tristemente. Pessoas se pintam de caveira, simbolizando a etapa seguinte da vida, e acendem velas em um belo espetáculo, com bebidas e até mesmo música. A celebração possui tantos elementos artísticos que é como se o enredo e a arte já estivessem prontos para serem utilizados por qualquer estúdio de cinema.
Mesmo assim, a Pixar dá um passo a mais e cria personagens cativantes e cenários surpreendentes que homenageiam esta celebração e a trazem para outras partes do mundo.
Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.