Big Festival 2023 – Games VR, o mercado brasileiro e a profissão de testador de jogos!

Os bastidores do mercado de games sob a perspectiva de um profissional de QA

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Yuki VR
Yuki VR
Loja Universo Noobz
Loja Universo Noobz

A 11ª edição do Big Festival 2023 aconteceu entre os dias 28 de junho a 2 de julho e quebrou diversos recordes atraindo mais de 50 mil visitantes ao longo do festival.

Um dos grandes destaques do evento é o BIG Awards, que todo ano premia os melhores jogos independentes do ano em diversas categorias. Nesta edição foram 626 jogos de 52 países inscritos para poder concorrer a premiação. Os jogos enviados foram avaliados pelo Comitê de Seleção do festival e 110 foram eleitos para concorrerem nas 18 categorias da premiação.

Na categoria Melhor XR / VR o grande vencedor foi YUKI MRrcade Mode da desenvolvedora brasileira ARVORE Immersive Experiences. Aproveitamos a oportunidade para bater um papo com Kleber Pessoa, coordenador de QA da empresa e que atuou no título para conhecer um pouco mais sobre a ARVORE Immersive e o cenário desse mercado de desenvolvimento no país.

Noobz: Antes de mais nada explique para nós qual é a função de um QA.

Kleber Pessoa: O QA precisa testar o jogo antes dele ser lançado com o objetivo de encontrar problemas, pois durante o desenvolvimento problemas vão surgir. Na versão final dos games os usuários nem imaginam a quantidade de bugs e problemas existiam, mas que não chegaram até ele por conta desse trabalho preventivo do QA. Então o trabalho do QA é justamente esse, encontrar problemas.

É como se fossemos um sommelier que está provando um bolo para ver se tem veneno dentro, porém estamos imunes ao veneno. Dessa forma conforme esse veneno é identificado nós reportamos para os setores responsáveis que vão retirando essas impurezas todas até o bolo ficar ótimo.

Noobz: Essa profissão de QA é muito cobiçada por quem quer entrar no mercado de games, pois há a ilusão de que é muito divertido ficar jogando o dia todo. Como é isso?

Kleber Pessoa: As pessoas vivem dizendo que “é divertido, vocês jogam video game o dia inteiro”. É e não é divertido. Realmente há um lado divertido, pois você está trabalhando com video games, uma posição tão almejada por tantos, mas não deixa de ser trabalho e você terá que jogar o mesmo jogo todo dia oito horas por dia, ouvir a mesma música todo dia, então com o passar do tempo você começa a ficar enjoado e você está testando um jogo que não está acabado, então é uma versão totalmente quebrada. Não é a mesma experiência de estar jogando um título em versão final no dia a dia.

Noobz: Sobre esse processo como funciona? Vocês jogam o jogo sem o acabamento final, encontram os erros e ai ele vai para o acabamento final. Ou além de jogar sem acabamento, depois do visual completo vocês tem que jogar tudo de novo?

Kleber Pessoa: Nós temos que jogar quando ele não está acabado e também a versão final. O desenvolvimento de games tem várias fases e nós já atuamos desde o protótipo, depois na versão alpha, onde ele está cheio de problemas, apenas com os ‘placeholders’ e ai vamos testando a cada implementação para ver se essas não dão problema. A cada elemento implementado há potencial para que surja um problema. Portanto jogamos todas as fases, até mesmo depois de ser lançado continuamos testando, reproduzindo bugs que o público encontrou, pois não tem jeito, sempre passa alguma coisa. Não tem como um jogo ser lançado 100% sem bugs. Nosso trabalho é minimizar a quantidade de bugs da versão final. Mas ainda assim encontramos bugs depois do lançamento. Nós testamos desde a versão mais simples e feia do jogo, até sua versão final.

Noobz: E na BIG Festival 2023, o que foi apresentado pela ARVORE Immersive Experiences?

Kleber Pessoa:  Na BIG desse ano nós concorremos com dois jogos, o Pixel Ripped 1978 e o Yuki MRARCADE Mode.

O Pixel Ripped 1978 acabou de ser lançado em parceria com a Atari para Playstation 5 VR, Meta Quest e Steam VR. Esse jogo é uma sequência do Pixel Ripped 1995 e nele você joga como Dot, a heroína de Farofa Land, que precisa viajar no tempo pra impedir o vilão Cyblin Lord que tem a intenção de bagunçar as memórias da criadora do jogo pra que ele se torne o protagonista da história, então ajudamos a própria criadora do jogo, a Bárbara “Bug” Rivers, enquanto ela trabalha no escritório da Atari na Califórnia desenvolvendo jogos. É uma história bem engraçada e nostálgica, pois revivemos a era do início dos consoles caseiros com a Atari. Esse jogo concorreu aos prêmios de Melhor Jogo e também Melhor Jogo XR/VR. 

E o jogo Yuki, que concorreu ano passado como melhor jogo XR/VR, voltou esse ano com um novo modo de jogo, o  MRARCADE Mode, que é um modo totalmente em mixed reality (realidade mista), concorrendo de novo a melhor jogo XR/VR, e dessa vez levamos o prêmio!

Kleber Pessoa na edição 2022 da Big Festival
Kleber Pessoa na edição 2022 da Big Festival

Noobz: Kleber, você já tem uma vasta experiência nesse mercado de QA atuando em várias empresas, mas na ARVORE, você atuou no game YUKI que é uma grande experiência em realidade virtual. O quão diferente é atuar como tester em um jogo 2D e um jogo de realidade virtual.

Kleber Pessoa: É muito diferente. A realidade virtual é algo completamente novo e acredito que seja uma das grandes tecnologias do futuro. Mas o jeito de testar é muito diferente porque em um jogo 2D/3D na tela você testa normalmente, vai colocando suas anotações do lado, marca o que fez e pode fazer. Já na realidade virtual você precisa usar o capacete com o óculos o tempo todo, o que dificulta as anotações mais rápidas, além de que o longo período de testes pode acabar lhe causando alguma tontura, ainda mais em um jogo que não está totalmente desenvolvido. Isso além do cansaço, pois temos que ficar fazendo movimento o dia todo. A cada teste é como se fosse uma malhação. Pode reparar que estou com o braço parrudo (risos).

Mas enfim, nós estamos aperfeiçoando os processos. Atualmente a cada período que jogo para testar eu gravo minha jogatina para depois analisar em vídeo toda a jornada e ai vou identificando os bugs e outras coisas.

Noobz: Durante o processo de testes de um jogo em realidade virtual como o de vocês, em todas as etapas vocês usam o óculos ou existe algum momento dos testes em que isso é feito da forma tradicional?

Kleber Pessoa: Quando o desenvolvedor está trabalhando o game ele usa algo que chamamos de editor, por exemplo, uma engine da unity. Nesse momento é possível jogar sem a realidade virtual, mas essa não é a proposta do QA, pois nós devemos jogar na versão mais fiel possível do que está sendo desenvolvido para o jogador, então estamos devemos trabalhar com o dispositivo.

Mesma coisa de um jogo de celular, que quando está em desenvolvimento a equipe de TI tem a possibilidade de jogar no computador, mas o QA não, ele deve ter o contato com o game sempre no mesmo canal que o usuário final vai receber o produto. Precisamos ver como o jogo se comporta naquele aparelho. VR então é a mesma coisa, usamos Quest, Rift, Oculus Vive, temos de tudo lá e passamos o dia todo de capacete na cabeça vendo como a coisa funciona.

Noobz: E como é a entrada nessa área de QA? Existe um pré-requisito, é indicação, é uma área concorrida ou é uma porta de entrada tranquila para o mercado?

Kleber Pessoa: Olha, conhecer jogos, gostar de jogos e ter experiência com uma variedade grande de estilos não chega a ser um pré-requisito, mas conta muitos pontos na hora que a empresa está selecionando um candidato a QA. Ter algum curso relacionado a desenvolvimento de games também é um diferencial, pois ter a visão de como um jogo é feito e suas etapas vão contar bastante na hora da seleção. Saber inglês é outro grande diferencial. Isso tudo porém, não são pré-requisitos. Comigo trabalha um filósofo, por exemplo e atua como QA e é um excelente QA.

O trabalho de QA é uma excelente porta de entrada para o mundo do desenvolvimento de games e vivemos um momento de abertura de muitos estúdios e todos precisam de testadores. Conheço muitos profissionais que hoje atuam como desenvolvedores, animadores que iniciaram como QA.

Em resumo, não há pré-requisitos explícitos, mas existem os diferenciais citados vão te ajudar a encontrar uma oportunidade.

Noobz: E vocês acabaram de ganhar um concorrido prêmio com o jogo YUKI MRrcade Mode, nos conte um pouco sobre o título?

Kleber Pessoa: Sabe aqueles jogos de navinha antigos em que tínhamos que guiar uma nave e atirar nos inimigos enquanto nos desviavamos de uma chuva de balas? Yuki pega esse estilo de jogo e traduz para a realidade virtual de uma forma linda, então dizemos que é um bullet hell em VR. Nele você é uma criança brincando de navinha com seu brinquedo favorito, a Yuki Space Ranger, e com suas próprias mãos você atira e faz a Yuki desviar de uma chuva de balas, usando seu corpo, quase como numa dança imersiva. Nesse ano nós trouxemos o modo MRcade, que é um modo em realidade mista, onde você vê os inimigos na própria sala da sua casa, aparecendo através de portais nas suas paredes e móveis e a sua realidade se mistura com o jogo. É incrível!

Pixel Ripped 1978
Pixel Ripped 1978

Noobz: E sobre a ARVORE Immersive Experiences, o que você pode nos dizer sobre alguns planejamentos atuais e futuros da desenvolvedora?

Kleber Pessoa: Bom, eu adoraria poder falar sobre os novos jogos que estamos produzindo, pois são capazes de explodir nossas mentes, mas ainda é tudo segredo. Mas o que posso dizer é que atualmente estamos trabalhando em trazer os jogos antigos da série Pixel para os consoles VR mais atuais, e quem sabe no futuro teremos a continuação da saga da Dot em um novo Pixel Ripped.

Noobz: Kleber, e sobre os desafios de trabalhar em um jogo de VR pensando no público do Brasil, onde a base instalada ainda é pequena. Além disso, os altos custos de produção dificultam que se chega aos nossos jogadores?

Kleber Pessoa :O mercado de jogos em VR é bem grande mundo afora, tanto que em 2021 o Meta Quest 2 foi o console mais vendido, superando o Switch, o Xbox e o PlayStation. Esse ano temos a chegada do Meta Quest 3 que promete aquecer ainda mais esse mercado. No Brasil os jogos em VR estão aos poucos caindo na graça dos jogadores, já temos várias comunidades de jogadores brasileiros e alguns novos estúdios produzindo jogos VR, mas a dificuldade de importação ainda é um problema, pois você não encontra aparelhos como o Quest 2 facilmente em nenhuma loja, apenas pela internet. Espero que com a chegada do Quest 3 isso mude, mas vamos aguardar o que o futuro nos reserva.

YUKI MRrcade Mode já está disponível para HTC XR Elite e vai estar disponível para Meta Quest 2, Quest Pro e Steam em breve.

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