Filme: Sniper Americano (American Sniper)
Direção: Clint Eastwood
Crítica Noobz: Ruan Sales
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fosse dirigido por Clint Eastwood e não tivesse como personagem principal um
herói de guerra loiro dos olhos azuis, “Sniper Americano” certamente também não
teria recebido metade das críticas negativas que lhe foram atribuídas. Contra o
ex-ator de 84 anos, intérprete de muitos tipos durões em filmes de ação, pesa
sua identificação com o chamado pensamento de “direita” e o fato de ter se
tornado quase um símbolo estereotipado do conservadorismo que tanto incomoda os
progressistas partidários da legalização da maconha, do aborto, da união
homoafetiva, etc. Some-se a isso um antiamericanismo crescente desde o início
da guerra do Iraque (retratada no filme), que atribui aos EUA a pecha de
potência imperialista exploradora e insensível à cultura e necessidades
materiais dos países da periferia do sistema internacional, e têm-se a
explicação para o viés negativo de parte das análises.
que seja possível encontrar, de fato, falhas na direção, como na cena em que Chris
Kyle (Bradley Cooper) segura uma boneca ao invés de um bebê, e pontos baixos no
roteiro, que perde fôlego no final do segundo ato, as virtudes do filme superam
de longe seus vícios. Podemos apontar como a maior delas o escopo limitado da
obra que segue à risca o lema aprendido pelo atirador de elite que o
protagoniza: “quem mira pequeno, erra pequeno”. Assim, não há espaço para
reflexões sobre a legitimidade da guerra ou para os bastidores da política
americana, o que é um acerto, já que não se trata de um filme político. Também
não há a pretensão de propor diálogos profundos sobre as decisões morais do
combatente: os conflitos internos do protagonista são suficientemente bem
explorados pelas expressões do indicado ao Oscar, Bradley Cooper. A questão dos
traumas dos veteranos, apesar de importante para a trama, não é aprofundada, felizmente,
pois não se trata de um drama psicológico. A abordagem firme e direta está de
acordo com a simplicidade da narrativa de ação.
filme é centrado na história de um homem comum que recebeu do pai, ainda
criança, a missão de proteger e defender os seus. Confrontado pela guerra, o
texano com habilidades de caçador, se alista e acaba enviado para a batalha
onde ganha fama como atirador corajoso e letal, querido pelos demais soldados
que se sentem muito mais seguros com a cobertura de sua mira. O antagonista não
é o terrorismo, não é o Islã e nem a guerra, mas sim um personagem específico:
Mustafa, atleta de tiro sírio, tão preciso quanto Kyle, que emprega suas
habilidades contra os americanos e revela ter uma ética torta ao registrar a
morte de suas vítimas e faturar com a divulgação.
Na
medida em que a trama se desenrola, cresce a expectativa pelo confronto direto
entre os dois, como em um filme de esportes ou super-heróis. E o espectador,
que talvez note a falta de carisma do protagonista no início da projeção, chega
ao meio do filme já torcendo por ele e sendo surpreendido ao perceber que o sniper
americano não irá parar até que o adversário não possa mais atirar. Proporcionando
momentos de muita apreensão, alívio e até compaixão, a obra é bem sucedida,
consegue emocionar, algo cada vez mais raro e que não se pode desprezar.
Avaliação: Bom