Direção: Robert Schwentke
Crítica Noobz: Ruan Sales
O
primeiro filme adaptado da trilogia literária de Veronica Roth, Divergente (2014),
dirigido por Neil Burger, soube explorar bem sua genética privilegiada para se
destacar entre as muitas produções de temática semelhante lançadas na mesma
época. Tão bem sucedida quanto especial, a obra deixou de herança muita expectativa
pela sua continuação e uma grande responsabilidade para o novo diretor, Robert
Schwentke, e os novos roteiristas escalados para a sequência. O maior desafio
era o fato de Insurgente ter nascido comum – capítulo intermediário sem os
mesmos atrativos do início da jornada ou do seu desfecho. Mas isso não foi
problema. Se a trajetória de superação da heroína ecoa uma mensagem motivacional
preciosa para um público de jovens que querem se descobrir especiais como Tris
(Shailene Woodley), a obra em si traduz uma máxima bem mais madura: a de que o
sucesso não se opõe ao ordinário, pois é possível ser bom sendo comum.
Parte importante da atração de Divergente se
deve ao clima de college movie que impera,
com as cenas repletas de personagens, os rituais de iniciação, toda a dinâmica
da formação de grupos, as paqueras, o drama envolvendo pertencimento e rejeição,
etc. Isso tudo em um universo próprio. Se Harry Potter tem as quatro “Casas de
Hoghwarts”, Divergente tem suas cinco facções. E tem também a polarização entre
Eric (Jai Courtney), o instrutor mau caráter, e Quatro (Theo James), sujeito
sério e fechado que acaba se revelando o mocinho por quem a protagonista se
apaixona. Outro ingrediente de sucesso é o curso de formação cheio de testes e
missões que buscam levar os novatos da Audácia ao limite, promovendo uma empolgante
peneira do tipo “pede pra sair”.
Só
que a vocação de Insurgente é outra. Não há clima de faculdade, ou curso de
formação, mas sim de guerra civil. A protagonista corta o cabelo, ganha ares de
guerrilheira e é perseguida. A história é séria, menos dinâmica, mais tensa,
uma grande preparação. Mesmo assim, Insurgente é o filho que decide seguir a
carreira de sucesso do pai com esforço e determinação que compensam a falta de
brilhantismo.
Para
isso, busca revisitar os acertos do anterior. Com a passagem do casal principal
pelas outras facções, Amizade e Franqueza, Insurgente tenta reviver o aspecto
comunitário do primeiro filme, explorando cenas de refeições coletivas,
reuniões e rituais, como o do soro da verdade – um ponto alto da história. Também
insiste em manter as atenções voltadas para Tris, sem correr o risco de se
perder evoluindo personagens secundários – o que certamente desagradou alguns
fãs dos livros. O que faz, além disso, é reforçar os traços daquela sociedade e
desenvolver ainda mais os aspectos do mundo real, já bem trabalhados em
Divergente, ao invés de dar destaque, por exemplo, à realidade virtual. E este
talvez seja o grande pecado da opção conservadora. Apesar de importante para a
história, a realidade virtual permanece mal aproveitada, um mero pretexto para boas
cenas de ação repletas de ótimos efeitos especiais e para a também recorrente representação
visual dos conflitos internos da heroína. Ainda pode render mais.
O grande acerto fica por conta da
caixa misteriosa e da condição inventada para a sua abertura. A condição é que
um divergente especial supere os desafios simulados de todas as facções. E o
desenrolar da narrativa em torno disso diverte e prende a atenção. O desfecho
surpreende e deixa uma série de possibilidades para o próximo filme. Assim, de
fato, se não foi brilhante, Insurgente pelo menos fez bem o que se propôs, não
desperdiçou sua herança e deixou para a sequência o crédito para ousar mais.
Por Ruan Sales