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Filme: Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Direção: Alejandro González Iñárritu
Crítica Noobz: Ruan Sales
Se
fosse uma canção, “Birdman” teria um refrão marcante, como a maioria dos
grandes sucessos radiofônicos; uma letra profunda e cheia de significado, como
as de Bob Dylan ou Renato Russo; arranjo complexo à Dream Theater e seria apresentada
(talvez com playback) pelos Mamonas
Assassinas. Virtuosismo técnico, sensibilidade artística e carisma a serviço de
uma ideia brilhante embrulhada em sátira. Reconhecimento e popularidade
garantidos. Merecidamente. Só fica uma pulga atrás da orelha: pode algo assim
ser autêntico e espontâneo? E se fosse “friamente calculado”, teria menos
valor?
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No
filme, Riggan Thomson (Michael Keaton) é famoso por ter interpretado um super-herói
ícone dos anos 90. O auge da carreira, portanto, passou há duas décadas. A
juventude se foi. A filha cresceu. Ele não viu. O dinheiro acabou. E o
prestígio, que não alcançou, começou a fazer falta. Em meio à crise da maturidade,
ele decide ser relevante, fazer algo importante e conquistar os elogios do New York Times. Com essa ambição, monta
um espetáculo para a Broadway baseado em um livro de Raymond Carver. Monólogos
cheios de poesia, cenas fortes, intensidade. Thomson aposta em uma fórmula para
o sucesso de crítica. Mas logo percebe que segui-la não será suficiente: ele
precisa arriscar tudo. E arrisca.
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Como
também arrisca Michael Keaton. Em um filme cheio de metalinguagem, com
referências a atores e filmes reais, era esperado que surgisse a observação de
que o interprete do Batman representaria a si mesmo em Birdman. O ator se
expôs, se despiu, confrontou as avaliações sobre seu fracasso e abraçou a
esperança de que essa seria, como para Riggan Thomson, sua grande chance de
redenção. Tudo combinado com o diretor Iñárritu que procurou o melhor
enquadramento nos momentos de fúria do personagem e não economizou nos closes
que destacaram uma atuação interessante, digna de indicação ao Oscar. Já para o
diretor mexicano era a grande chance de consagração. E ele fez tudo certo. A
movimentação de câmeras é um espetáculo bastante importante para o filme que
certamente perderia muita força se não fosse filmado exatamente como foi. Os
diálogos são exuberantes. O roteiro cativante. Mesmo os personagens mais
caricatos, como a velha crítica, estão ali em prol da história.
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Birdman
correu o sério risco de ser apenas pretensioso e autoindulgente, um exercício
de exibicionismo sem alma. Crítica que valeria tanto para o diretor, quanto
para o ator principal ou para o herói do filme. Mas deu certo. Nesse caso
pode-se dizer que foi um sucesso perfeitamente calculado. Elogio que vale para Iñárritu,
mas será que também vale para Keaton e Thomson?
Bom
Por Ruan Sales